Devaneios sobre Comparação


Nos dias em que vivemos, quase todas as pessoas estão correndo em busca daquilo que chamamos de sucesso. Os mais variados meios de se alcançar esse sucesso tem produzido um ruído, de vez em quando imperceptível, em outros com um barulho estrondoso. A sensação é que para você ser alguma coisa, invariavelmente, precisa ser maior do que alguém, nesse processo, sempre haverá um acima do outro, e assim, sempre a baliza pela qual é avaliado o outro, joga ele pra baixo, e via de regra, você pra cima.

Eu cresci num lar, no qual, a comparação sempre foi algo comum, tenho um irmão gêmeo. Isso significa que todo mundo comparava um irmão com outro. Qual era mais legal, mais bonito, mais inteligente, sempre um em relação ao outro, e isso é tóxico; havia o risco de colocar um irmão contra o outro, ou de gerar um espírito de competição, no qual um sempre deveria provar ao outro quem era o melhor. E sim, esse mosquitinho da comparação picou os dois, e em boa parte da vida vivíamos para olhar para o outro e ver quem era melhor. Todos nós temos nossas sombras e de tempo em tempo precisamos ver se elas não são maiores, ou alimentadas.

Sou pastor, e isso não indica que nesse meio santo e consagrado não há comparações. Na verdade, eu acredito que ali tem numa escala muito elevada. Pela minha memória, lembro de algumas falas do diretor do seminário onde estudei, no qual, ele propositalmente, comparava os pastores que se formavam com o Hernandes Dias Lopes, o mesmo dizia: Se pudéssemos colocar o Hernandes na máquina de xerox... Com isso, direcionava o nosso coração para o local onde nos comparássemos com Hernandes, ou seja, essa era a régua. E aqui preciso começar a entender que não fui chamado para ser o Hernandes, fui chamado para ser o Lourival, não quero ser uma cópia, preciso ser o original. Percebo que algumas pessoas preferem ser um plagio de outra pessoas ao invés de ser o original da sua história. Me parece um personagem, e acredito que internet tem produzido várias pessoas que são algo na frente das telas e outra no oculto.

Comparação é de outro reino, e não do reino de Deus. Além da questão pastoral, eu preciso olhar para outra área que sou apaixonado, a música. Falar de originalidade na música é quase impossível, porém, nesse ecossistema a palavra é assimilação, você ouve e incorpora aquilo para você, e assim chamam de influência, e até aqui, podemos concordar, e isso seria muito bom inclusive no ambiente pastoral. Entretanto, tem aparência de algo bonito, mas nos bastidores a história é outra, quase que invariavelmente a comparação está ali. Já vi várias pessoas fazendo comparações entre grupos de louvor de igrejas da cidade, qual era o melhor? Que músico era o melhor? E assim por diante. Não posso ser negligente com minhas faltas e pecados, eu fui um deles. E provavelmente o tempo, a maturidade, e acima de tudo o próprio Espírito Santo nos leva para caminhos mais saudáveis.

A comparação pode produzir outras coisas que podem te destruir gradativamente, cito duas, a saber o orgulho e o complexo de inferioridade. O primeiro é um dos pecados mais sutis, ele surge do pensamento de que você atingiu o platô, o ápice das suas habilidades e competências e está acima de todos, e isso produz um olhar altivo. O segundo surge quando você olha para dentro e se percebe com incapaz e que todos a sua volta são superiores, e isso pode levar a destruição do seu coração.

Com tudo isso posto a mesa, sou quem eu sou, e estou tranquilo quanto a isso. Continuo a viver, é mais gostoso celebrar as conquistas do meu irmão do que competir com ele. É melhor desfrutar a pregação do Hernandes, ou qualquer outro do que ficar procurando defeitos para me sentir melhor. Ouvir as notas e melodias faz da vida mais alegre, é possível ser mais leve.

Entenda, Deus te chamou para ser você! Com seus medos, seus defeitos, sua forma de ser e de agir, a maneira que particular de pregar, tocar, cantar. E isso mostra a multiforme graça de Deus, não somos iguais, portanto, não é necessário ficar se comparando com o outro, basta ser quem Deus te chamou para ser. Não a melhor versão de você mesmo, mas mais parecido com Jesus gradualmente. E assim, pouco a pouco, permita que aja contentamento e não orgulho sobre a sua vida, gratidão é palavra de ordem.

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